13º Festival Internacional de Jazz de Portalegre (Portalegre JazzFest)
O 13º Festival Internacional de Jazz de Portalegre (Portalegre JazzFest), decorrerá no mês de março, em dois fins-de-semana seguidos, mantendo o formato do ano passado, que nos parece o mais adequado, tendo em vista o crescimento do festival no futuro.
Os destaques desta edição são, no primeiro fim de semana, a 12 de março, o Carlos Martins Quarteto, constituído por quatro dos músicos mais talentosos do panorama jazzístico português, todos eles já habituados a pisar o palco do Centro de Artes: Carlos Martins, no saxofone, Mário Delgado, na guitarra, Carlos Barretto, no contrabaixo e Alexandre Frazão, na bateria, que virão apresentar o disco sucessor de “Absence”.
O destaque do segundo fim de semana, a 18 de março, vai para o Eric Revis Trio, a formação liderada por este contrabaixista americano de estilo único, que consegue ser tão melódico quanto percussivo, e que incluí ainda Kris Davis, no piano e John Betsch, na bateria.
Ainda no Grande Auditório, teremos a 11 de março o duo norueguês constituído por Mari Kvien Brunvoll, na voz, efeitos, loops, kazoo, kalimba, saltério, percussão, roll up piano e caixa de ritmos, e Stein Urheim, na voz, guitarras, baixo, flauta, bouzouki, tamboura, percussão, efeitos e loops, uma dupla que utiliza instrumentos pouco comuns nos domínios do jazz e da música improvisada, a fazer lembrar as bandas sonoras de Ennio Morricone para os filmes western spaghetti.
Finalmente, a 19 de março, os também noruegueses Crome Hill, constituídos por Asbjorn Lerheim, na guitarra, Atle Nymo, no saxofone, Roger Arntzen, no baixo elétrico e Thorstein Lofthus, na bateria, encerrarão o ciclo de concertos no Grande Auditório, com a sua original mistura de jazz, folk e rock.
Como é habitual no Jazzfest, o espaço do café-concerto, depois dos concertos do Grande Auditório, será nos dois fins de semana preenchido por projetos “frescos” do panorama português: a 11 e 12 de março, teremos o trio constituído por Miguel Mira, no violoncelo, Pedro Sousa, no saxofone e Afonso Simões, na bateria.
No fim de semana de 18 e 19 de março, o café-concerto receberá os Slow is Possible, constituídos por André Pontífice, no violoncelo, Bruno Figueira, no saxofone, Duarte Fonseca, na bateria, João Clemente, na guitarra, Nuno Santos Dias, no piano, Patrick Ferreira, no clarinete e Ricardo Sousa, no contrabaixo.
Nesta 13ª edição, irá manter-se a bem sucedida parceria entre o CAEP e a editora Clean Feed, através da habitual oferta de CD’s na compra de entradas para o festival (1 CD por cada bilhete para o Grande Auditório e 4 CD’s pelo Passe para os 4 dias), sempre com o intuito de promover, divulgar e conquistar novos públicos.
Para além desta parceria, irão manter-se as tradicionais Feiras do Disco (responsabilidade da Clean Feed) e a Mostra de Vinhos e Produtos regionais, no Foyer do CAEP.
Programa da 13ª Edição do Festival Internacional de Jazz de Portalegre (Portalegre JazzFest)
11 MAR. SEX. 21.30H
Mari Kvien Brunvoll / Stein Urheim (Noruega)
13º Portalegre JazzFest | GA | 8 € (oferta 1 CD) / Passe 25 € (oferta 4 CDs) | M/4 anos
10 anos de CAE Portalegre
Mari Kvien Brunvoll voz, efeitos, loops, kazoo, kalimba, saltério, percussão, roll up piano, caixa de ritmos
Stein Urheim voz, guitarras, baixo, flauta, bouzouki, tamboura, percussão, efeitos, loops
Instrumentos como saltério, kalimba, bouzouki, kazoo, flautas de madeira, piano “de enrolar”, drum machine e outros do género não são propriamente comuns nos domínios do jazz e da música improvisada, mas a eles se dedica, muitas vezes processando-os electronicamente e samplando-os, a dupla escandinava constituída pelos multi-instrumentistas e cantores Stein Urheim e Mari Kvien Brunvoll. A ideia é recuperar na prática da improvisação o tipo de jogo que as crianças adoptam quando brincam com os sons, tornando isso num método criativo sério, ainda que aplicado com um sorriso.
Os resultados são surpreendentes, podendo lembrar a Penguin Café Orchestra ou as bandas sonoras de Ennio Morricone para os filmes spaghetti, bem como tentando as mais inusitadas das combinações: uma bossa nova de carácter interestelar, algo que poderia ter sido tocado pelos Can ou por Sun Ra, um dub de cores folclóricas, como se Lee “Scratch” Perry e Sandy Denny tivessem passado um fim-de-semana juntos, ou uma música barroca a resvalar para o lounge dos anos 1950, num estranho compromisso entre Bach e Dean Martin. É isso que encontramos no mais recente disco do projecto, “For Individuals Facing the Terror of Cosmic Loneliness”, lançado em 2015 pela Jazzland. O título vem de um poema do filósofo Bertrand Russell cantado pelo duo, que também recorre a palavras, por exemplo, de Federico Garcia Lorca.
Melodias sugestivas, texturas abstractas, um grande sentido de intriga, muito “groove” e, acima de tudo, um enorme apetite de descoberta e maravilhamento são as linhas condutoras dos dois músicos, ambos apostados em fazer algo de totalmente diferente com materiais que podemos reconhecer. Torna-se impossível não gostar.
12 MAR. SÁB. 21.30H
Carlos Martins Quarteto (Portugal)
13º Portalegre JazzFest | GA | 8 € (oferta 1 CD) / Passe 25 € (oferta 4 CDs) | M/4 anos
10 anos de CAE Portalegre
Carlos Martins saxofone
Mário Delgado guitarra
Carlos Barretto contrabaixo
Alexandre Frazão bateria
O disco “Absence”, o primeiro deste quarteto, trouxe claramente à discografia portuguesa um som diferente. Em primeiro lugar, na atitude determinada de guardar o maior silêncio possível dentro do som produzido, obrigando a uma disciplina inédita do coletivo. Terá sido também essa disciplina e a vontade de partilha da generosidade, que conquistou o coração de tantos portugueses, que escutaram “Absence” e o transformaram num dos discos de jazz mais vendidos dos últimos anos em Portugal.
Agora haverá um novo disco, com outras nuances, que é a continuação de “Absence”, como um segundo volume mais alegre e quente, tocando uma inquietação calma inspirada ainda numa incerta nostalgia, sentindo o pulso do ambiente que vivemos aqui e no mundo. É também fruto do natural desenvolvimento da música, dentro de um sistema permeável como é o Quarteto, em contacto com o público nos concertos feitos entretanto, em performances iluminadas que se afastaram ligeiramente do som inicial.
11 e 12 MAR. SEX. e SÀB 23.30H
Sousa/Mira/Simões
13º Portalegre JazzFest | CC | 3 € / Passe 25 € (oferta 4 CDs) | M/4 anos
10 anos de CAE Portalegre
Miguel Mira Violoncelo
Pedro Sousa Saxofone
Afonso Simões Bateria
Este trio reúne três gerações de intervenientes de alta atividade e impacto na comunidade de música em Lisboa: Miguel Mira é um violoncelista completo, num pico de forma e criatividade, tendo também trabalho regular com uma das formações-chave do jazz contemporâneo nacional, o Motion Trio, de Rodrigo Amado.
Afonso Simões é um improvisador com mais de dez anos de trabalho público, tendo nos últimos anos estado ativo com a banda polidiscursista Gala Drop.
Pedro Sousa é saxofonista tenor e barítono, com colaborações em projetos ligados ao jazz, ao rock, ao noise e à experimentação mais desafiante..
18 MAR. SEX. 21.30H
Eric Revis Trio
13º Portalegre JazzFest | GA | 8 € (oferta 1 CD) / Passe 25 € (oferta 4 CDs) | M/4 anos
10 anos de CAE Portalegre
Eric Revis contrabaixo
Kris Davis piano
John Betsch bateria
Eric Revis é reconhecido, acima de tudo, como um contrabaixista de estilo único, com um som de madeira enorme, espesso e que consegue ser tão melódico quanto percussivo, swingando sempre, seja qual for o contexto. O músico norte-americano percorre com igual desenvoltura os circuitos do mainstream e da vanguarda, tendo já trabalhado com nomes como Betty Carter, Lionel Hampton, McCoy Tyner, Peter Brotzmann, Steve Coleman e Branford Marsalis.
A música proposta pelo grupo é afirmativa na sua identidade e clara na coesão conseguida, mas denota a variedade de interesses e influências de Revis e dos seus pares. Fica mesmo explicado que no alinhamento dos temas se repesquem partituras de autores tão apartados no tempo como na estética, como Thelonious Monk e Keith Jarrett.
Groove, subtileza e energia coexistem como é raro acontecer, não deixando ninguém indiferente.
19 MAR. SÁB. 21.30H
Chrome Hill (Noruega)
13º Portalegre JazzFest | GA | 8 € (oferta 1 CD) / Passe 25 € (oferta 4 CDs) | M/4 anos
10 anos de CAE Portalegre
Asbjorn Lerheim guitarra
Atle Nymo saxofone
Roger Arntzen baixo eléctrico
Thorstein Lofthus bateria
Um grupo norueguês a tocar folk americana? Se os Chrome Hill fossem só isso, já seria invulgar o suficiente, mas o que nos propõem é ainda mais complicado, e por isso mesmo aliciante. A folk está lá, de facto, mas dentro de um invólucro jazz em que ainda cabe o rock, tal como este era entendido nas décadas de 1960 e 70, aquele rock agora ressurgido com designações como desert rock, stoner rock ou psych rock.
Os Chrome Hill podem ser originários da Escandinávia, mas na realidade vivem num país de fronteiras perdidas, que dispensa alfândegas e não entende conceitos como “imigração de pessoas” ou “importação de bens”. “Country of Lost Borders” é precisamente o título do seu novo disco, o quarto da sua carreira, indo mais fundo nas raízes, e designadamente as do jazz e do rock: os blues. Com eles, transportam a verdade essencial da música dos nossos dias, pesada tarefa em que são mestres de dimensão mundial.
18 e 19 MAR. SEX. e SÀB 23.30H
Slow is Possible (Portugal)
13º Portalegre JazzFest | CC | 3 € / Passe 25 € (oferta 4 CDs) | M/4 anos
10 anos de CAE Portalegre
André Pontífice violoncelo
Bruno Figueira saxofone
Duarte Fonseca bateria
João Clemente guitarra
Nuno Santos Dias piano
Patrick Ferreira clarinete
Ricardo Sousa contrabaixo
Slow is Possible são a nova grande surpresa do jazz, num país que tido algumas nos últimos anos, como as revelações de Hugo Carvalhais, de Marco Barroso com o LUME, de João Guimarães com Zero e Fail Better! ou do Ensemble Super Moderne e do Coreto. No caso dos Slow is Possible, isso acontece por maior força de razão, já que os sete jovens músicos que o constituem não cresceram nos meios do jazz, sendo a sua formação clássica.
O jazz que praticam revela influências eruditas, mas também do rock e das músicas exploratórias, dando um relevo à melodia e ao ritmo que o torna particularmente acessível. O trabalho harmónico desenvolvido pelo grupo pode ser complexo, mas os seus temas ‘entram facilmente no ouvido’ e ficam lá, muito devido ao carácter cinematográfico das composições, fruto de um especial interesse pelo cinema experimental e por realizadores como Myra Deren e David Lynch.